Um elefante incomoda muita gente, a Chapeuzinho solteira incomoda muito mais

Um elefante incomoda muita gente,
Dois elefantes incomodam muito mais,
Três elefantes incomodam muita gente
E uma menina solteira incomoda,
Incomoda, incomoda muito mais…
Será?


Se as caras leitoras e os caros leitores ficaram surpresos com a releitura da cantiga popular, convido-os a um  mergulho em   histórias de uma personagem muito conhecida da Literatura Infantil: Chapeuzinho Vermelho. Desejam me acompanhar?

No século XVII foi publicada a coletânea “Contos da Mamãe Gansa”, a qual reunia releituras de contos que circulavam na tradição oral francesa, responsável por gravar o nome do escritor francês, Charles Perrault, na história da literatura infantil ocidental. Um dos contos do livro narra a história da menina conhecida por ter ido levar uma cesta de alimentos para sua avó, encontrado um lobo que a fez se desviar do seu caminho, o que mudou o curso da sua narrativa. Essa menina, cuja história hoje povoa o imaginário de muitas crianças, é conhecida pelo apelido de Chapeuzinho Vermelho.

Dois séculos após a publicação dos “Contos da Mamãe Gansa”, uma nova compilação de contos da tradição oral foi realizada, desta vez, pelos alemães Jacob e Wilhelm Grimm. Diferentemente da versão de Perrault, o conto dos Irmãos Grimm apresenta um desfecho “menos trágico” para Chapeuzinho e sua avó.  Enquanto na versão francesa o conto termina com o lobo devorando a menina, na versão alemã a menina e a avó são salvas por um caçador.

Os registros realizados pela escrita dos textos de Perrault e dos Irmãos Grimm foram fundamentais para a popularização do conto, no sentido da expansão do número de leitores.  É possível dizer que poucos contos tiveram tantas releituras e retextualizações quanto Chapeuzinho Vermelho. Ana Maria Machado, pesquisadora e escritora de literatura infantil brasileira, contribui para o nosso diálogo. Ao pensar a produção de releituras e retextualizações dos clássicos infantis, Machado afirma:

Como esses contos tradicionais são os clássicos infantis mais difundidos e conhecidos, a gente sabe que pode se referir a eles e piscar o olho para o leitor, porque ele conhece o universo de que estamos falando. Fica possível, então, fazer paródias aos contos de fadas e brincar com esse repertório, aprofundando uma visão crítica do mundo a partir de pouquíssimos elementos (MACHADO, 2002, p.81).

Autores brasileiros, para usar a expressão de Ana Maria Machado, têm “dado piscadinhas” para nossas crianças e vêm produzindo livros que dialogam com os clássicos contos de fadas. Já que estamos pensando na história de Chapeuzinho Vermelho, entre os livros que estabeleceram diálogos intertextuais com essa narrativa, é possível citar: “Fita Verde no Cabelo”, de João Guimarães Rosa; “Chapeuzinho Amarelo”, de Chico Buarque de Hollanda; “Chapeuzinho Vermelho de raiva”, de Mário Prata; “Chapeuzinhos Coloridos”, de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta; “Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas”, de Flávio Souza.

Além das narrativas em que Chapeuzinho aparece como protagonista, a menina do capuz vermelho também se faz presente em outras narrativas em que dialoga com muitos personagens do universo do faz de conta, como é o caso do livro “O fantástico mistério de Feiurinha”, escrito por Pedro Bandeira. Ao tratar da narrativa construída por Bandeira, começaremos a abordar a temática que motivou a escrita do presente texto: a “problemática” solteirice de Chapeuzinho Vermelho.

A narrativa de Bandeira, cuja primeira edição data de 1986[1], se passa vinte e cinco anos após os “felizes para sempre” das princesas dos contos clássicos (Branca de Neve; Cinderela; A Bela Adormecida; Bela; Rapunzel; a jovem da história “A Moura Torta”), depois de todas já casadas com príncipes e usando “Encantado” como sobrenome. Chapeuzinho marca presença sendo destacada como a única personagem a permanecer solteira e é descrita na história como “encalhada”.

Chapeuzinho Vermelho era a mais solteira das amigas de Dona Branca e uma das poucas que não era princesa. A história dela tinha terminado dizendo que ela ia viver feliz para sempre ao lado da Vovozinha, mas não falava em nenhum príncipe encantado. Por isso, Chapeuzinho ficou solteirona e encalhada ao lado de uma velha cada vez mais caduca (BANDEIRA, 1999, p.16).


“A personagem, por sua vez, vive a lamentar sua solteirice: – Só eu que não vou fazer boda nenhuma…- Suspirou Dona Chapeuzinho” (BANDEIRA, 1999, p.24). Guardem essas palavras, leitoras e leitores atentos. Em breve voltaremos à elas, antes, porém, é preciso continuar a apresentar o livro de Pedro Bandeira. Caminhemos, então!

Em “O fantástico mistério de Feiurinha” a narrativa gira em torno da busca por Feiurinha, princesa desaparecida do reino dos contos de fadas, cuja história nenhuma das princesas, nem ninguém dos seus reinos, sabia contar. O desaparecimento de Feiurinha causa muita aflição nas princesas, pois os seus tão preciosos “felizes para sempre” parecem estar ameaçados.  Visto que, sozinhas, as princesas não conseguiram desvendar o mistério da princesa desaparecida, Branca de Neve infere que as pessoas que as criaram, os escritores, poderiam lhes ajudar, e solicita que Caio, o seu lacaio, encontre-lhes um escritor capaz de auxiliá-las na tarefa.

Disposto a cumprir a tarefa que lhe fora confiada, Caio atravessou reinos até chegar ao nosso mundo e encontrar um escritor disposto a ajudá-lo. O escritor, por sua vez, tentando descobrir a história de Feiurinha, fez muitas pesquisas, recorrendo até a pessoas de outros países, porém, não obteve nenhum êxito. Com a demora do escritor, as princesas decidiram lhe fazer uma visita. A chegada das princesas causou no escritor um misto de alegria e tristeza. Alegria por ver muitas princesas que ele tanto admirava em sua sala e tristeza por não conseguir ajudá-las, visto que não havia avançado na busca por Feiurinha.  Os dias se passavam e as princesas ficavam mais tristes, até que, em uma conversa na qual concluíram que Feiurinha só havia desaparecido, pois a sua história não havia sido eternizada através da escrita como as das demais personagens, Jerusa, que trabalhava como empregada doméstica do escritor, e com quem os personagens não haviam compartilhado a missão de encontrar a princesa desaparecida, ouviu o nome de Feiurinha e ressaltou quão bela era sua história.

Felizes e concluindo que tinham procurado em lugares tão distantes, mas não tinham perguntado aos que estavam mais próximos, pediram para que Jerusa lhes contasse a história de Feiurinha e, após ouvi-la, o escritor ficou encarregado de registrá-la. As princesas e o lacaio voltaram para os seus reinos seguras de que nada mais lhes ameaçava visto que, enquanto as pessoas contassem e conhecem as suas histórias, eles existiriam e concretizariam os seus tão sonhados “felizes para sempre” (BANDEIRA, 1999).

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Inspirada na história de Pedro Bandeira, Mônica Martins escreveu o livro “O príncipe desencantado: o dia em que Chapeuzinho vermelho desencalhou” – a primeira edição é do ano de 2016, ilustrada por André Flauzino. Como a autora registrou em uma espécie de prefácio do livro, “a história começa depois da última página do livro ‘O fantástico mistério de Feiurinha’ e atende ao pedido de socorro da menina de capuz vermelho, socorro por medo da solidão de ficar solteira” (MARTINS, 2016).  Mônica Martins escreve:

Sua revolta aumentou ao ver que até Feiurinha teve sua história escrita e transformada em filme de cinema e lá, numa escala mais reforçada que no livro, ela, Chapeuzinho, era a encalhada dos contos de fadas. Um total desrespeito a uma menina obediente que foi levar um lanche pra Vovozinha e ficou só nisso. Chapeuzinho me acordou dias seguidos, forçou-me a ler diversas versões de sua triste e solitária história e decidiu que eu só dormiria sossegada depois de arranjar-lhe um marido (MARTINS, 2016, p.9).

O livro narra a busca de Chapeuzinho Vermelho (a qual odeia ainda assinar “Srta Vermelho”) por um marido. Para satisfazer o seu intento, a personagem recorre a diversos meios: escreve aos Irmãos Grimm, e, ao receber a notícia da morte dos escritores, aceita a ajuda da fada Cacareco, uma fada SOS (Socorro Orientador de Solteirice). Por fim, sabendo que todos os príncipes da família Encantado já estavam casados, ela aceita fazer uma busca pelos “quase príncipes”, aqueles que não tiveram o currículo aprovado para o papel de príncipes, e, por fim pelos “príncipes desencantados”, “os ex-sapos, os funcionários públicos dos contos e os serviçais” (MARTINS, 2016). Ao final, quando Chapeuzinho rejeita todos os “futuros pretendentes”, bate a sua porta um admirador secreto, Miguel da Silva, que trabalhava na UFF (União Federal das Fadas), e a convida para um chá; eles acabam se casando e Chapeuzinho agora passa a assinar Chapeuzinho Vermelho da Silva (MARTINS, 2016).

Tendo apresentado as narrativas “O fantástico mistério de Feiurinha” e “O príncipe desencantado: o dia em que Chapeuzinho Vermelho desencalhou”, convido agora as leitoras curiosas e os leitores curiosos a pensar na seguinte pergunta: por que é problemática a busca por um marido para Chapeuzinho Vermelho?  Para esboçarmos possíveis respostas a pergunta, além de elaborarmos outras perguntas, convido ao debate a filósofa francesa Simone de Beauvoir.

No segundo volume do livro “O segundo sexo”, o qual tem como subtítulo “a experiência vivida”, Beauvoir reflete em um tom crítico sobre a condição imposta às mulheres:

A mulher é Bela Adormecida, Cinderela, Branca de Neve, a que recebe e suporta. Nas canções, nos contos, vê-se o jovem partir aventurosamente em busca da mulher; ele mata dragões, luta contra gigantes; ela se acha encerrada em uma torre, um palácio, um jardim, uma caverna, acorrentada a um rochedo, cativa, adormecida: ela espera (BEAUVOIR, 2016, p. 37).

Nota-se: a mulher não é Chapeuzinho Vermelho. A menina do capuz vermelho é a personagem que cruza um bosque sozinha, que desobedece, que apesar de, nas versões de Perrault, ser punida com a morte e, nas versões dos irmãos Grimm, ser salva por um caçador e “aprender uma lição”, representa uma transcendência. Chapeuzinho rompe com o que estava predeterminado para ela.

No livro “O príncipe desencantado: o dia em que Chapeuzinho Vermelho desencalhou”, vemos outra representação. Leiamos:

Chapeuzinho Vermelho fazia um ligeiro lanchinho quando ouviu o chamado.

–Será que ouvi direito? É a voz do meu Príncipe! Meu Marido! E danou a ajeitar as madeixas e a fantasiar: Nossa, até que enfim que um príncipe me encontrou nesta lonjura! (MARTINS, 2016, p. 10).


É possível dizer que no texto de Mônica Martins, a partir do excerto citado, Chapeuzinho sai de uma representação de transcendência, aquela que rompe os limites, para uma representação de imanência, aquela que permanece. Beauvoir, ao tratar da relação que as jovens podem estabelecer com a natureza, escreve:

Na casa paterna reinam a mãe, as leis, o costume, a rotina e ela quer arrancar-se desse passado; quer tornar-se por sua vez um sujeito soberano: mas socialmente só atinge sua vida de adulto fazendo-se mulher; paga sua libertação com uma abdicação, ao passo que no meio dos pássaros e dos bichos ela é um ser humano; libertou-se ao mesmo tempo da família e dos homens, é um sujeito, uma liberdade. Encontra no segredo das florestas uma imagem da solidão de sua alma e nos vastos horizontes das planícies a figura sensível de sua transcendência; é ela própria a charneca ilimitada, o pico voltado para o céu. Ela pode seguir essas estradas que partem para o futuro desconhecido, ela as seguirá; sentada no alto da colina domina todas as riquezas do mundo jogadas a seus pés, oferecidas (BEAUVOIR, 2016, p. 115).

A Chapeuzinho que caminha pela floresta, diferentemente da Chapeuzinho que senta anos a fio na casa da avó e espera pelo seu príncipe encantado, experimenta dessa liberdade. Que tal direcionarmos agora o nosso olhar para outros excertos das narrativas? Lembram das palavras que lhes pedi para que guardassem? Vamos à elas!

Chapeuzinho Vermelho era a mais solteira das amigas de Dona Branca e uma das poucas que não era princesa. A história dela tinha terminado dizendo que ela ia viver feliz para sempre ao lado da Vovozinha, mas não falava em nenhum príncipe encantado. Por isso, Chapeuzinho ficou solteirona e encalhada ao lado de uma velha cada vez mais caduca (BANDEIRA, 1999, p.16).


Acrescentemos mais um excerto do livro escrito por Pedro Bandeira

[…] – Quem escreveu a história da Feiurinha?

– Da Feiurinha eu não sei – respondeu Dona Chapeuzinho Vermelho. – Mas a minha eu sei que foi Charles Perrault. Um francês ma-ra-vi-lho-so que só esqueceu de botar um Príncipe Encantado no final (BANDEIRA, 1999, p.43).


A história de Chapeuzinho, não termina com um “felizes para sempre” em nenhuma das versões clássicas, sabendo disso, podemos notar uma contradição na história de Pedro Bandeira. Dentre as versões, a dos Grimm e a de Perrault, a que mais se aproxima de um tradicional “felizes para sempre” é a dos Irmãos Grimm, pois a menina e a avó são retiradas da barriga do lobo pelo caçador. Na versão de Perrault, a história termina com a menina sendo devorada.

Contradições a parte, é preciso lembrar de que o ponto “felizes para sempre” aproxima as narrativas de Pedro Bandeira e de Mônica Martins, porém, ao ponto que aproxima, também distancia.

No livro “O fantástico mistério de Feiurinha”, apesar de Chapeuzinho ser tratada como a personagem encalhada, o final feliz da personagem não depende de um casamento, mas de que sua história, como a de todas as outras princesas, continue sendo contada.  Em “O príncipe desencantado: o dia em que Chapeuzinho Vermelho desencalhou”, o casamento aparece como condição sine qua non para felicidade, como podemos ler no excerto a seguir:

Todos nós sabemos, Chapeuzinho foi a única personagem dos contos de fadas a ficar solteira, sem príncipe algum, nunca tendo se tornado princesa: começou Chapeuzinho Vermelho e continuava Chapeuzinho, sem direito ao “foram felizes para sempre” etc etc  (MARTINS, 2016, p.12).


Continuando o diálogo com Simone de Beauvoir, a autora de “O segundo sexo”, ao escrever sobre o casamento, aponta que “O destino que a sociedade propõe tradicionalmente à mulher é o casamento. Em sua maioria, ainda hoje, as mulheres são casadas, ou o foram ou se preparam para sê-lo, ou sofrem por não sê-lo” (BEAUVOIR, 2016, p. 185).

O livro “O segundo sexo” teve a sua primeira edição publicada em 1949, ou seja, em 2017 completam-se 68 anos de publicação. De lá para cá muita coisa mudou, as lutas pelos direitos das mulheres se intensificaram e os movimentos feministas assumiram novas pautas. Hoje, o feminismo negro tem se fortalecido, e debatemos de forma mais plural as questões relacionadas à diversidade sexual, como também as diferentes configurações de família. Os avanços foram muitos, embora, no Brasil, realidade em que posso me posicionar com mais propriedade, começamos a sofrer perdas, visto à aprovação do texto base da PEC 181, a qual torna ainda mais rígida a legislação contra o aborto. Em tempos em que as mulheres ocupam e lutam para ocupar diferentes lugares sociais, desempenhar diferentes papéis, atrelar a felicidade da mulher ao casamento, fixá-la no papel de esposa, é repetir um discurso anacrônico. É nos tirar a transcendência e nos deixar, novamente, no lugar da imanência.

Em vias de concluir o presente texto, ainda urge destacar um aspecto do livro “O príncipe desencantado: o dia em que Chapeuzinho Vermelho desencalhou”.  Nas ilustrações de André Flauzinho é representada uma Chapeuzinho Vermelho negra. No que isso implica? Podemos analisar essa questão por diferentes linhas, dessas, escolherei duas.

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(MARTINS, 2016, p. 16)

Primeiramente, podemos pensar na ideia de subverter o padrão eurocêntrico de representação dos personagens dos contos de fadas, apresentando uma Chapeuzinho negra, de cabelos crespos. Ideia muito pertinente. Por outro lado, não é possível deixar de lembrar que, conforme registrado no texto verbal, essa é uma Chapeuzinho que tem medo da solidão, de uma solidão pela ausência de um matrimônio. Sendo assim, como não falar da solidão da mulher negra? Solidão no sentido de a mulher negra ser pouco considerada como “a mulher para casar”?

No livro “Mulher negra: afetividade e solidão” fruto da tese de doutorado de Ana Cláudia Lemos Pacheco, a pesquisadora, ao apresentar os objetivos do seu livro, declara:

Assim, este livro pretende demonstrar que tais representações sociais sobre as mulheres negras no cenário baiano e brasileiro ordenam as vidas e a afetividade desses sujeitos. Ou seja, além dos estereótipos mencionados, há uma representação social baseada na raça e no gênero, a qual regula as escolhas afetivas das mulheres negras. A mulher negra e mestiça estariam fora do “mercado afetivo” e naturalizada no “mercado do sexo”, da erotização, do trabalho doméstico, feminilizado e “escravizado”; em contraposição, as mulheres brancas seriam, nessas elaborações, pertencentes “à cultura do afetivo”, do casamento, da união estável (PACHECO, 2013, p. 25).

Olhamos para a Chapeuzinho negra, e ela diz: “– Sim, aceito!”[2] (MARTINS, 2016, p. 12), para o primeiro homem que chega à sua porta, pois ela estava desesperada por um matrimônio. É essa a representação que nós, mulheres negras, desejamos?  Chapeuzinho se casa com um admirador secreto branco, é preciso ressaltar, mas será o casamento a resolução do problema? Aceitar o primeiro homem que chega à sua porta por medo de permanecer sozinha é o “feliz para sempre” de Chapeuzinho Vermelho? Era uma vez…

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(MARTINS, 2016, p. 34-35)


NOTAS

[1] A edição consultada para a escrita do presente texto foi a vigésima terceira, publicada pela FTD, com ilustrações de Avelino Guedes.

[2] Apesar de, nos momentos de interação com a Fada Cacareco, Chapeuzinho “escolher” o seu futuro pretendente, nas primeiras páginas da narrativa, quando um entregador bate a sua porta, a personagem, sem saber quem a chama, enuncia o “-sim, eu aceito” como podemos ler na seguinte citação:

Espiou pela janela, avistou o cavalheiro, estranhou suas vestes, mas… afinal de contas, depois de muitos, muitos anos devia ser natural que os príncipes tivessem inovado na vestimenta.

Ela não! Conservadora, manteve o capuz e a capinha vermelha, indo com elas até o portão.

O entregador estava sentado, cansado como ele só.

Nos contos de fadas não existem caixinhas de Correio, sedex e esse tipo de coisas do mundo moderno; o jeito era esperar e pronto. E assim ele fez.

Chapeuzinho, doida que estava por um marido há séculos, foi logo dizendo :

– Sim, aceito! (MARTINS, 2016, p. 12).


REFERÊNCIAS

BANDEIRA, Pedro. O fantástico mistério de Feiurinha. São Paulo: FTD, 1999. 23. Ed. Ilustrações de Avelino Guedes.

BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: a experiência vivida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo.Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

MARTINS, Mônica. O príncipe desencantado: o dia em que Chapeuzinho Vermelho desencalhou. São Paulo: Scortecci, 2016. Ilustrações de Andé Flauzino.

PACHECO, Ana Cláudia Lemos. Mulher Negra: afetividade e solidão. Salvador: Edufba, 2013.

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